Poems

from O Pastor

      
 
Era um homem
      um homem
      um homem.
 
Depois da sua era
Será para sempre a lembrança
A versão de uma lenda terrível.
 
        II
 
Era um pastor que pastoreara
A grande promessa.
 
O pastor que conclamara
O horizonte e a agulha do astrolábio.
 
Era um pastor e sua trouxa de deserto.
 
Um pastor
e sua litania de queda e de nada.
 
       III
 
Da festa era a inapagável memória.
Era a gravata da demência no Equador.
Era o ar entupindo os poros das casas.
 
       IV
 
Ogun não sabia.
Algures alguém dormia.
Valsavam palácios em Kampala e Alexandria.
 
       V
 
Tombam dos galhos as bocas
- infaustos frutos -
e eis os abutres que arfam
 
Ei-los com zelo curvados
sobre um tapete de sonhos
 
Eis que goteja em seus crânios
um diadema de ventania e de trevas.
 
Eis as cinzas do relógio, as migalhas da bandeira.
 
O pastor semeia a morte
pelos poros do seu reino
e cólera alguma
tambor fumaça notícia
esconjura a azáfama da colheita.